quinta-feira, 26 de abril de 2012

Complicada


Ela era complicada.

Gostava do barulho da chuva, mas sentia-se deprimida sem o sol. Adorava perfumes doces, mas cheiros muito doces a deixavam enjoada. Amava a calmaria do campo, mas enlouquecia sem o agito da cidade. Complicada, muito complicada.

Ele era simples.

Gostava de acordar cedo, praticar esportes e encontrar os amigos. Ouvia uma boa música, lia quando dava tempo, não abria mão de um papo leve e de uma boa cerveja. Simples, muito simples.

Tudo o que ele não queria era uma pessoa complicada.

Mas ela apareceu. Correndo e, como sempre, atrasada. Tropeçou nele, derrubou seus livros e a chave do carro, ficou irritada, pediu desculpas. Ele ajudou, riu e observou: “não precisa de tanta pressa!”. Mas ela precisava.

Naquele dia o papo leve pareceu menos leve e a cerveja menos gelada. Ele precisava encontrá-la novamente.

E encontrou. Sem tempo, correndo, mas sorrindo. Saíram, conversaram, se apaixonaram. Ele se apaixonou de um jeito simples. Ela se apaixonou de um jeito complicado.

O tempo passando. Ele cada vez mais atento a ela. Ela cada vez mais atenta ao mundo. Esquecendo das datas, dos encontros, das mensagens. Quanto mais ele abraçava, mais ela sentia-se sufocada.

Sabia que o problema não estava nele. Sabia que o problema não estava na chuva, no perfume ou no silêncio do campo. Ela queria ser simples e tentava, como tentava! Mas tinha nascido assim, complicada.

Ele queria acordar ao lado dela. Ela queria acordar sozinha.

Ele tentou, tentou e desistiu. Simples.

Ela sofreu, chorou e aceitou, aliviada. Complicada.

C.G.

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